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RG Ferro 2021 Concreto como arma
Descrição
Este texto foi a primeira tradução para o inglês de Sérgio Ferro publicada no contexto do projeto TF/TK. Katie Lloyd Thomas, João Marcos Lopes e Silke Kapp trabalhavam na proposta de financiamento do projeto quando a Harvard Design Magazine pediu contribuições de Ferro para a edição 'No Sweat'. O material escolhido foi um original inédito em português finalizado em 2017, que ampliou e elaborou substancialmente as ideias que Ferro havia discutido em publicações anteriores. O artigo era muito longo para as diretrizes da revista, mas um rascunho de tradução feito literalmente da noite para o dia foi suficiente para convencer os editores a publicar o texto completo como um encarte especial. Nas versões originais francesa e brasileira há um jogo entre o termo para concreto armado (béton armé ou concreto armado) e o título ‘Le béton comme arme’ ou ‘O concreto como arma’ que se perde parcialmente na tradução. O principal argumento de Ferro fica claro nesse título, ao analisar as circunstâncias particulares da adoção do concreto na construção no final do século XIX, não como mera inovação material, mas como estratégia do capital contra a organização dos trabalhadores da construção civil, incluindo, assim, a história da arquitetura em um contexto mais amplo de luta de classes.
O texto aqui apresentado é uma espécie de síntese elaborada a partir de uma série de outras publicações sobre o tema da entrada do concreto armado (e dos novos materiais) como fato preponderante para a separação entre o canteiro e o desenho, consequentemente, para a introdução da subsunção do capital na construção civil. Sérgio Ferro se debruçou no entrecruzamento entre as várias histórias - a das transformações históricas, a das lutas de classe e a das transformações tecnológicas - para compreender as estratégias de esvaziamento do monopólio dos saberes tradicionais.
Há que considerar tal amadurecimento teórico dentro do contexto da sua trajetória, primeiro nas suas desconfianças sobre o uso do concreto armado na década de 1960 na arquitetura brasileira e dentro do grupo dos arquitetos paulistas, do qual ele mesmo fazia parte. Depois, como pesquisador, com todas as dificuldades de se encontrar fontes documentais no campo do trabalho e das lutas travadas nos canteiros de obras. Assim, as elaborações conjuntas nas pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Pesquisa Dessin/Chantier, ao lado de Cyrille Simonnet, Gwenaël Delhumeau e Réjean Legault e as pesquisas mais recentes de Adrian Forty são de grande relevância para essa síntese.
O texto é revelador no sentindo que reelabora as questões colocadas na década de 1960 à luz de uma longa duração, ampliando o seu horizonte, desde o fim do século XVIII e início do século XIX até os dias atuais. Assim, parece deslocar o seu alvo crítico num âmbito mais ampliado: dos arquitetos para a construção vista dentro da economia política. Finalmente o texto manifesta outros caminhos de leitura para a historiografia da arquitetura e suas mudanças técnicas.
Outras Referências sobre a publicação:
Le béton comme arme. Dessin Chantier , n. 1, p.179-186 (1983). Link: http://bit.ly/4f9Qtjs (parte 4 do PDF disponível no site)
O concreto como arma. Projeto, n.111 (1988)
Le béton comme arme. L'esprit des matériaux: architecture et philosophie, n. 1: Béton[s] (1980). Link: https://bit.ly/4fWQxED
Le béton comme arme, (2008).
Concrete as Weapon. Harvard Design Magazine, n. 16 (2019)
Description
This text was the first English translation of Sérgio Ferro’s work published within the context of the TF/TK project. Katie Lloyd Thomas, João Marcos Lopes, and Silke Kapp were working on the project’s grant proposal when Harvard Design Magazine requested contributions from Ferro for the 'No Sweat' edition. The material selected was an unpublished original in Portuguese, completed in 2017, which significantly expanded and elaborated on ideas that Ferro had discussed in earlier publications. The article was too long for the magazine's guidelines, but a draft translation done literally overnight was enough to convince the editors to publish the full text as a special insert.
In the original French and Portuguese versions, there is a play on words between the term for reinforced concrete (béton armé or concreto armado) and the title ‘Le béton comme arme’ or ‘O concreto como arma,’ which is partially lost in translation. Ferro’s main argument is clear in this title, as he analyzes the particular circumstances of the adoption of concrete in construction at the end of the 19th century, not as a mere material innovation but as a capitalist strategy against the organization of construction workers, thus placing the history of architecture within a broader context of class struggle.
The text presented here is a kind of synthesis, elaborated from a series of other publications on the topic of the introduction of reinforced concrete (and new materials) as a key factor in the separation between construction and design, and consequently, in the introduction of the subsumption of capital in construction. Sérgio Ferro delves into the intersection of various histories—the history of historical transformations, class struggles, and technological transformations—to understand the strategies used to undermine the monopoly of traditional knowledge.
This theoretical maturation should be considered within the context of his trajectory: first, in his skepticism about the use of reinforced concrete in the 1960s in Brazilian architecture and within the group of São Paulo architects, of which he was a part. Later, as a researcher, facing the difficulties of finding documentary sources in the field of labor and the struggles waged on construction sites. Thus, the joint elaborations in research developed at the Dessin/Chantier Research Laboratory, alongside Cyrille Simonnet, Gwenaël Delhumeau, and Réjean Legault, as well as more recent research by Adrian Forty, are of great relevance to this synthesis.
The text is revealing in the sense that it reworks the issues raised in the 1960s with a long-term perspective, expanding its horizon from the late 18th and early 19th centuries to the present day. It seems to shift its critical focus to a broader scope: from architects to construction viewed within political economy. Finally, the text offers new avenues for reading the historiography of architecture and its technical changes.
Observação
Os textos disponíveis neste acervo foram preparados para as discussões ocorridas em encontros mensais do grupo TFTK, com a presença de convidados e do próprio Sérgio Ferro, entre os anos de 2021 e 2022. A iniciativa, denominada Grupos de Leitura (Reading Groups), teve como objetivo apoiar os trabalhos de tradução, coordenados pela Profa. Silke Kapp, Mariana Moura (PdRA), Ana Naomi de Sousa e Ellen Heyward (tradutoras), e a supervisão da Profa. Katie Lloyd Thomas.
Nesse sentido, tais textos foram editados pela equipe dos trabalhos de tradução, seguindo uma padronização específica e contendo numeração dos parágrafos, notas explicativas sobre termos ou excertos das edições. Alguns deles encontram-se separados por partes, de acordo com a sua complexidade e o tempo de discussão.
Cada texto foi discutido em duas reuniões - uma na língua inglesa e outra na língua portuguesa. Cada uma delas foi gravada e está disponível apenas para consulta no Acervo Sérgio Ferro (IAU USP).
Além de divulgar e promover a revisão dos textos traduzidos pela equipe do TF/TK, o objetivo dos encontros foi também disseminar e aprofundar o acúmulo sobre a obra de Sérgio Ferro em ambas as línguas; estruturar e desenvolver as discussões sobre o campo dos Estudos de Produção; e promover o intercâmbio entre os pesquisadores de língua inglesa e portuguesa, vinculados ao campo de Estudos de Produção. A cada encontro foram enviadas as versões em inglês e em português do texto selecionado aos participantes. A metodologia de organização dos grupos variou de acordo com a complexidade do texto e com o número de participantes.
Note
The texts available in this collection were prepared for discussions held during the monthly meetings of the TFTK group, with invited guests and, in some cases, Sérgio Ferro himself, between 2021 and 2022. This initiative, called Reading Groups, aimed to support the translation work coordinated by Professor Silke Kapp, Mariana Moura (PdRA), Ana Naomi de Sousa, and Ellen Heyward (translators), under the supervision of Professor Katie Lloyd Thomas. In this regard, these texts were edited by the translation team, following a specific standardization, including paragraph numbering and explanatory notes on terms or excerpts from the editions. Some of the texts are divided into parts based on their complexity and the time allocated for discussion. Each text was discussed in two groups—one in English and another in Portuguese—and both sessions were recorded and are available for consultation only in the Sérgio Ferro Colection(IAU USP). In addition to promoting the review of the texts translated by the TF/TK team, the meetings also aimed to disseminate and deepen the understanding of Sérgio Ferro's work in both languages; to structure and develop discussions within the field of Production Studies; and to foster exchange between English- and Portuguese-speaking researchers engaged in the field of Production Studies. For each meeting, both the English and Portuguese versions of the selected text were sent to the participants. The group organization methodology varied according to the text's complexity and the number of participants.
Natureza do material / Type of material
Autor(a) / Author
Ano / Year
1988
Como citar / How to quote (ABNT)
FERRO, Sérgio. Concreto como arma. Coleção Teoria e História da Arquitetura (Acervo Sérgio Ferro), TFTK Production Studies, 2023, https://tftk.iau.usp.br